quinta-feira, 28 de junho de 2012

Escolas Bilíngues

Confira a matéria da revista crescer. As vantagens e os benefícios de ter seu filho em uma escola bilíngue. Entenda também, a diferenta entre escolas internacionais e escolas bilíngues.
Have a nice reading!

http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI96126-10469,00-BILINGUE+OR+NOT.html

Bilíngue or not?

Garantir a fluência das crianças em um segundo idioma “sem sofrimento”. Prepará-las para eventuais temporadas no exterior ou garantir um passo à frente de outros no mercado de trabalho. Há muitos argumentos para inúmeras famílias optarem por colocar filhos em escolas bilíngues. Mas será o melhor?

Marina Vidigal

Ilustrações Daniel Lourenço
A ideia é sedutora. O aprendizado de uma segunda língua nos primeiros sete anos de vida gera uma significativa elasticidade mental para a criança. Curiosa e aberta às novidades, ela se torna fluente em pouco tempo, adquire destreza com idiomas em geral, constrói um repertório linguístico diferenciado e ainda adquire a possibilidade de vivenciar a diversidade cultural. Mais que isso, há diversos estudos, como um recentemente desenvolvido com 200 jovens, pelo Grupo de Investigação em Neurociências da Universidade de Barcelona (Espanha), que aponta uma maior capacidade de concentração entre pessoas que falam dois ou mais idiomas. “Além de ter competências e habilidades em duas línguas, a pessoa precisa saber em que momentos e situações usar cada uma delas e discernir o termo a ser empregado. Isso requer atenção e treino que, como indicam esses estudiosos, acabam sendo transportados para outras situações da vida”, diz Esperanza Tremosa Ruiz, chefe de estudos da educação infantil e professora de língua espanhola do Miguel de Cervantes, colégio bilíngue em espanhol de São Paulo.
Para quem se interessa pela ideia, é preciso primeiramente entender que há vários tipos de propostas entre essas escolas. Dentro do que chamamos corriqueiramente de escolas bilíngues, existem as que se propõem a ensinar um outro idioma tendo desde o início o português como foco principal e ainda algumas que oferecem às crianças pequenas uma imersão exclusiva no segundo idioma, para só começar a usar o português na fase da preparação para a alfabetização. Na Escola Cidade Jardim/Play Pen (SP), por exemplo, crianças entre 1 e 4 anos têm uma vivência escolar estritamente em inglês e, a partir dos 5, começam a usar também o português. A proporção da nossa língua aumenta a partir daí, até que ela passe a usar o português durante 55% do período escolar, contra 45% de inglês. Além das bilíngues, existem também as internacionais, nas quais o português é tratado como segunda língua e o idioma estrangeiro é utilizado na maior parte do tempo. Entre elas, algumas escolas são reconhecidas por uma organização mundial denominada IB (International Baccalaureate) e seguem currículo e condutas estipuladas por ela. São essas as mais visadas para filhos de diplomatas e de executivos de multinacionais, pessoas que procuram dar andamento à linha de estudos aos filhos, mesmo mudando de país com frequência. Em todas as escolas internacionais e em algumas bilíngues, vale dizer, existe a possibilidade de a criança sair com diploma reconhecido em universidades estrangeiras e, no mundo todo, 2.700 escolas seguem esses parâmetros em 138 países.
Na escola internacional Saint Nicholas, por exemplo, o currículo é britânico e crianças de 18 meses a 18 anos têm o inglês como língua oficial. Somente os brasileiros precisam cursar também matérias do currículo nacional. Entre os 541 alunos atualmente matriculados na escola, cerca de 40% são estrangeiros, de 33 diferentes nacionalidades (há argentinos, japoneses, coreanos, indianos, israelenses, árabes etc.). A brasileira Priscilla Oyola, atual diretora de marketing da escola, elegeu o estabelecimento para matricular sua filha, Fernanda, bem antes de trabalhar lá. A menina, que hoje está com 13 anos, tinha na época 5 anos e, como não falavam inglês em casa, frequentou por seis meses uma escola que preparava crianças para estudarem em escolas internacionais – e foi admitida. “Eu queria oferecer o mundo para minha filha e essa foi a maneira que eu encontrei. No ambiente em que aprende e obtém conhecimento, ela também tem contato com uma série de costumes, línguas, culturas e hábitos, coisa que eu não conseguiria, a menos que vivesse um pouco em cada lugar do mundo”, diz Priscilla.
É inegável que as trocas multiculturais possíveis nessas escolas deixam a criança mais aberta, com uma visão mais crítica do mundo. Ainda assim, para Francisco Baptista Assumpção Junior, psiquiatra infantil e professor do Instituto de Psicologia da USP, esse multiculturalismo tem suas desvantagens. Ele acredita que essas vivências muitas vezes são acompanhadas de um distanciamento da própria cultura, que pode acabar tornando a criança uma estrangeira dentro da própria escola, do próprio país. “As raízes são um importante suporte, uma sustentação para a sanidade mental de uma pessoa. Uma criança que se afasta da cultura de seu país, de sua família e dela própria corre o risco de sofrer um desenraizamento, perder sua identidade, envergonhar-se do que é e passar a querer ser algo que não é, ter o que não tem. É compreensível uma família colocar o filho numa escola nesses moldes quando tem a ver com sua cultura, seu idioma e suas raízes, mas quando não há nenhum vínculo nesse sentido, eu realmente não concordo”, diz o professor.

Ilustrações Daniel Lourenço
Brasileiros e vínculos 
O número de famílias brasileiras que procuram escolas bilíngues para os filhos vem aumentando, bem como o número de escolas – em 2007 eram 145 e, em 2009, um levantamento apontou 182. Segundo os profissionais, os pais brasileiros ouvem da escola a importância de valorizarem a cultura e a língua que passará a fazer parte da vida de seus filhos. Na opinião de Paola Capraro, diretora da escola italiana Eugenio Montale (SP), o ideal seria os pais estudarem a nova língua para não deixar as crianças sozinhas na empreitada. “Cedo ou tarde a criança chegará em casa com uma referência que ninguém poderá compartilhar com ela”.
Com experiência em atendimento a crianças de escolas internacionais, a fonoaudióloga Beatriz Araújo enfatiza que, independentemente de a criança se aprofundar em outros idiomas, sua primeira língua deve ser sempre bem trabalhada: “É por meio dela que a criança vai conseguir se expressar, pois seu lado afetivo está relacionado a essa língua”. Para isso, o uso da língua materna em casa pode ser incentivado expondo a criança a livros, histórias, músicas, filmes e eventos culturais nesse idioma. Tal estímulo pode contribuir com a elaboração da fala, com um bom desempenho da criança na leitura e na escrita e ajuda a evitar uma possível defasagem no português. A especialista ainda salienta que a criança que possui uma primeira língua forte tem chances muito maiores de estruturar melhor o aprendizado de um segundo idioma. Há interferências também, claro, na escrita, com a primeira se sobrepondo à segunda. Tais dificuldades são previstas e devem ser trabalhadas na própria escola e resolvidas bem antes de as crianças ingressarem no ensino médio.
O mesmo princípio deve se estender à cultura brasileira. Não são todas as escolas bilíngues que abordam o tema com tanta ênfase quanto uma escola brasileira – e aí vale questionar: faz sentido uma criança brasileira saber mais dos índios norte-americanos do que das tribos brasileiras? Ou ter pleno domínio da história de um país europeu e desconhecer a própria origem? Para serem reconhecidas pelo Ministério da Educação, todas as escolas estabelecidas no Brasil têm um currículo mínimo a ser abordado em sala de aula, sejam elas bilíngues ou não – cabe aos pais investigar se a ênfase dada ao assunto pela escola é compatível com o que eles julgam necessário para os filhos.
É uma grande decisão, sim 
Trocando em miúdos, a verdade é que o ensino bilíngue oferece uma série de vantagens e desvantagens e, por isso, deve ser uma opção analisada cuidadosamente conforme a cultura, os interesses, planos e ideais de cada família. Conforme Heidi Oliveira, diretora pedagógica da Juan Uribe Ensino Afetivo, a questão não é saber qual o melhor tipo de escola, mas a ideal para uma determinada criança. É preciso se questionar: por que uma educação bilíngue? Qual o objetivo por trás dessa escolha? Os valores da língua, da cultura e da escola em questão estão de acordo com os valores da família? Qual a relevância da língua para criança em seu momento atual? A família viaja ou tem algum contato com a cultura estrangeira? A decisão é importante, traçará o início da jornada escolar da criança e justifica, portanto, muita leitura, investigação e reflexão.
Na hora de escolher a bilíngue, observe...
...a quantidade e a proporção de idiomas falados na escola e a fração de cada um em relação ao português. Embora a maioria das bilíngues do Brasil tenha o inglês como segunda língua, há instituições que trabalham três ou quatro idiomas simultaneamente.
...se há um apoio pedagógico especial para crianças cujos pais não são fluentes na língua praticada na escola, já que em muitas ocasiões elas não poderão contar com o apoio deles.
...a proporção de estrangeiros matriculados e ver se isso casa com os interesses da família.
...quanto e de que forma a criança aprende sobre cultura brasileira e se é suficiente para vocês.
...quais países aceitam o diploma da escola pesquisada.
...como é o português aprendido. Você pode pedir para ter acesso a textos de adolescentes, no caso de escolas com ensino médio, como forma de avaliar.
...os feriados e as datas comemorativas que a escola segue, se são do Brasil, dos norte-americanos ou dos europeus, pois isso pode mudar os planos da família.
...a carga horária pois, a fim de abordar todo o conteúdo a que se propõem, as escolas costumam se estender para o período integral. Além da agenda cheia da criança todos os dias, essa característica, aliada ao grau de especialização dos professores, pode aumentar ainda mais o valor das mensalidades.
E se for a primeira escola do seu filho...
...observe bem o tamanho da escola e o quão bilíngue ela realmente é, para não pagar por algum serviço que, na verdade, está disponível em qualquer escola boa.
...veja se a criança terá permissão para usar o português quando precisar, uma vez que ela nem sempre ouve a segunda língua em casa.
...verifique se a instituição visitada alfabetiza em português primeiramente ou em outro idioma e saiba que é preciso paciência até que elas adquiram uma boa escrita.
...pergunte se a escola avalia o conhecimento prévio do idioma para aceitar a criança, pois há algumas que fazem isso mesmo em se tratando de educação infantil.
Ilustrações Daniel Lourenço

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